quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O segundo filho...

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"O segundo filho chega chegando, trazendo com ele aquele mesmo caos do início, que já enfrentamos lá na primeira viagem. Mas é um caos diferente, é um caos dominável, flexível, mais bonzinho.

O segundo filho é mais leve, mais doce, mais fácil de ler, de decifrar, tem menos mistérios e ainda assim é um ser encantador e cheio de desafios.

O segundo filho é mais paciente, pode esperar um pouquinho, pode ficar com a fralda sem trocar por mais tempo, pode sair pra passear antes do resguardo acabar e não precisa de uma ligação para o pediatra a cada coriza que aparece.

O segundo filho não desespera nem faz todos entrarem em pânico quando chora, porque está apenas se comunicando, apenas tentando demonstrar o que sente. E se ele tiver que chorar um pouquinho para que você possa fazer um xixi ou terminar aquele gole de café, tudo bem. 

Na segunda viagem, a gente sabe que chorar um pouquinho não tira pedaço de ninguém. O segundo filho é mais econômico, tem menos roupas e tranqueiras compradas e um pouco (ou muito!) do enxoval herdado do primeiro, não importando se este usava azul ou rosa. Porque na hora do aperto, não faz diferença a cor da fraldinha de boca ou da mantinha. O segundo filho é mais tranquilo, mesmo quando chora aos berros de cólica ou regurgita mais da metade do que mamou na sua blusa, bem na hora de sair. Porque tem pais que sabem que isso acontece e vai acontecer por muitas e muitas vezes ainda.

O segundo filho tem seu padrão de sono melhor aceito e compreendido, porque tem pais que sabem que nem tudo que leram nos livros da encantadora de bebês dará certo e também, que as noites insones não irão perdurar para sempre. O segundo filho é sustentável, herda os brinquedos do irmão ou irmã e com isso economiza-se um bom dinheiro e garante-se uma onda de reciclagem do bem. O segundo filho é forte, não tem perigo de quebrar nem escorrega fácil no banho. Dorme com gente falando em volta porque, afinal, é impossível fazer o irmão maior ficar em silêncio.

O segundo filho geralmente é mais calmo, mas ainda assim dá seus pitis e tem pais que ficam putos e exaustos às vezes (ou muitas vezes). O segundo filho é meio escola porque te dá a oportunidade de corrigir os erros de antes e cometer novos erros, dando assim continuidade ao aprendizado como pai e mãe, como ser humano. O segundo filho é mais alegre, mais livre para ser ele mesmo porque não tem que ser um bebê perfeito, mas apenas um bebê. 

O segundo filho é mais desencanado, porque tem pais que, mesmo cuidando da sua saúde e segurança, são menos neuróticos com a sujeira, as bactérias, os cantos e as quinas. Sabem que cair faz parte do aprendizado da vida e que uma hora ou outra eles serão lambidos ou beijados pelo irmão mais velho que já frequenta a escolinha, lugar cativo das viroses. O segundo filho tem suas fases respeitadas e pais que esperam sem pressa ou ansiedade que ele se sente, tenha dentes, engatinhe, ande e fale. Porque sabem que cada bebê tem um ritmo diferente.

O segundo filho é menos filmado e fotografado, é verdade. Mas é mais visto, percebido e tão ou mais comemorado que o primeiro, em cada uma das suas conquistas.

O segundo filho já vem com habilidades circenses porque tem pais malabaristas, que se tornaram peritos em ser multitarefas e usar não somente as mãos, mas também a boca e os pés para carregar ou amparar coisas

O segundo filho, mesmo com uma atenção que nunca foi só dele, é mais beijado, abraçado e cafungado. Porque tem pais que sabem que num piscar de olhos ele já estará indo para a faculdade e que esse papo de que colo mima e estraga a criança é balela.
O segundo filho é matemático e te ensina de novo todas as equações que você aprendeu lá no primário, principalmente a soma e a divisão. Aprende-se a amar mais, a amar melhor e a dividir esse amor.

O segundo filho traz menos culpa, porque tem pais que sabem que nem tudo sai como o planejado mas que tentam fazer o seu melhor. E acima de tudo, que têm consciência de que não precisam se anular como indivíduos para serem bons pais.

O segundo filho é tudo, menos previsível, te surpreende, te faz rever seus conceitos e, a cada instante, te mostra que você ainda tem muito, muito a aprender.

A segunda viagem é linda, enriquecedora e não deixa de ser difícil. Porém, durante as turbulências, você já sabe onde caem as máscaras de oxigênio, já sabe onde se agarrar e para onde correr. O ar pode até faltar por alguns momentos, mas no final, você sabe que ficará tudo bem. Mesmo que seja de um jeito diferente daquele que você imaginou, lá no começo."



Autoria: Michelle Tulio Amorim

Blog Vida Materna

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